A paixão de Cristo segundo o Santo Sudário
https://www.rs21.com.br/espiritualidade/voce-pode-ser-feliz/videos-voce-pode-ser-feliz/31032015-a-paixao-de-cristo-segundo-o-santo-sudario/
História do Santo Sudário
É certo que, no Domingo da Ressurreição, Pedro e João encontraram no túmulo a mortalha de Jesus. Os Sinóticos, que, por ocasião do sepultamento, não falaram senão da mortalha, assinalam, no Domingo, os “othonia” (= panos); a mortalha evidente faz parte desses “othonia”. São João que, em seu evangelho, não falou na sexta-feira santa a não ser dos “othonia”, assinala, no Domingo, os “othonia” e o “soudarion”. Veremos com M. Lévesque que este “soudarion” é a mortalha, do aramaico em que pensa São João. Quem o recusar será forçado a colocar a mortalha entre os “othonia”.
Que destino lhe deram os apóstolos?
Apesar de natural repugnância própria a judeus, para os quais tudo o que toca a morte é impuro, sobretudo um pano manchado de sangue, é impossível admitir que não tivessem recolhido com todo cuidado esta relíquia da Paixão do Homem-Deus. É necessário admitir também que a esconderam cuidadosamente. Deveriam protegê-la da destruição por parte dos perseguidores da jovem Igreja. Por outro lado, não se podia pensar em propô-la à veneração dos novos cristãos, ainda imbuídos do horror dos antigos pela infâmia da cruz. Haveremos de voltar com mais vagar a este longo período em que a cruz se escondia sob símbolos: só nos séculos V e VI é que veremos os primeiros crucifixos que, de resto, aparecem ainda um tanto disfarçados. Só nos séculos VII e VIII é que eles se espalham um pouco. Não será senão no século XIII que se difundirá a devoção à Paixão de Cristo.
Acrescentemos a seguinte hipótese que está baseada em fenômeno biológico misterioso, mas devidamente verificado: é muito possível que nesta mortalha, portadora desde o início de manchas sanguíneas, as impressões corporais não fossem visíveis durante muitos anos. É possível que elas só se tenham “revelado” posteriormente, como sobre uma chapa fotográfica que esconde sua imagem virtual até o banho revelador.
Pois existe todo um período obscuro em que a Mortalha (ou Sudário) não aparece, no qual não pode aparecer. Era mesmo necessário que estivesse cuidadosamente escondida, para ter escapado a todas as ocasiões de destruição. Romanos, persas, medos, partos devastaram sucessivamente Jerusalém e demoliram suas igrejas. E o que foi feito da Mortalha?
Nicéforo Calisto escreve em sua História Eclesiástica que a imperatriz Pulquéria fez construir, em 436, em Constantinopla, a basílica de Santa Maria dos “Blacherner” e ali depositou os panos mortuários de Jesus, recentemente descobertos. É precisamente aí que iremos ver o Santo Sudário, em 1204 (Roberto de Clari). Entretanto, em 1171, segundo Guilherme de Tyr, o imperador grego, Manuel I, Commeno (1122-1180) mostra ao rei Amaury de Jerusalém as relíquias da Paixão: lança, cravos, esponja, coroa de espinhos e a Mortalha que ele conservava na Capela do “Boucoleon”. Ora, tudo isto ali está, mais uma Verônica, segundo Roberto de Clari. Convém, de resto, notar que Nicéforo, morto em 1250, escreveu após a tomada de Constantinopla, em 1204, quando a Mortalha desapareceu. Há, portanto, alguma confusão possível.
Mas, muito tempo antes, são Braulio, bispo de Saragoça, em 631, varão douto e prudente, em sua carta XLII ao abade Tayon, fala como de coisa conhecida havia muito tempo “de sudaruim quo corpus Domini est involutum – da Mortalha (= Sudário) em que o corpo do Senhor foi envolvido”. E acrescenta: “A Sagrada Escritura não diz que tenha sido conservado, mas não se pode tachar de supersticiosos aqueles que acreditam na autenticidade deste Sudário”. Um “sudário” que envolveu o corpo de Jesus não pode ser senão uma mortalha; vê-lo-emos no capítulo do sepultamento.
Onde estava ela, pois, nesta época?
Abramos os três livros do abade beneditino de lona, Adamnan, “Sobre os Santos Lugares, de acordo com a relação de Arculfo, bispo francês”, secção III, cap. X: “de Sudarium Domini”. Arculfo faz uma peregrinação a Jerusalém por volta do ano 640. Aí viu e osculou o “Sudarium Domini quod in sepulcro super caput ipsius fuerat positum – o Sudário do Senhor que no sepulcro estivera colocado sobre Sua cabeça”. São as mesmas palavras com que se expressou são João (cf.20,7). Ora, este sudário, segundo Arculfo, é uma comprida peça de tecido que mede, avaliada a olho, cerca de 8 pés de comprimento (=2,44 m). Não é, portanto, um lenço, mas sim um lençol ou mortalha (= sudário).
O venerável Beda, no começo do século VIII, também registra este testemunho de Arculfo em sua História Eclesiástica (De Loci Santis). Mais ou menos na mesma época, São João Damasceno assinava entre as relíquias veneradas pelos cristãos o “sindon”. Vemos desde logo que “sindon” e “sudarium” são empregados indiferentemente como sinônimos.
Parece resultar de tudo isto que no século VII a Mortalha ficara em Jerusalém ou voltara para lá e que não foi para Constantinopla senão mais tarde. Quando? Não sabemos. Talvez antes do século XII, durante o qual alguns peregrinos se referem ao “sudarium quod fruit super caput eius” naquela cidade; acabamos de ver segundo Arculfo que isto significa a Santa Mortalha. Em todo o caso, já lá estava em 1204, por ocasião da 4ª Cruzada.
Roberto de Clari, cavaleiro da Picardia, que tomou parte na tomada de Constantinopla, em 1204, nos conduz a terreno já muito sólido.
Roberto é considerado pelos críticos de história como homem de instrução média, um tanto ingênuo e que se pôde deixar embair na política dos altos barões, dos quais estava longe. Mas é testemunha muito atenta e perfeitamente sincera em relação a tudo o que ele mesmo vê.
Ora, descreve ele minuciosamente (p. 82) todas as riquezas e relíquias vistas nos palácios e nas “rikes kapeles”, ricas capelas da cidade; especialmente no “Boucoleon” que jocosamente denomina “el Bouke de Lion” (= o estreito de Lião) e em Blachernes”. No “Boucoleon”, viu, a respeito de Jesus, dois pedaços da verdadeira cruz, o ferro da lança, dois cravos, um fresquinho de sangue, uma túnica e a coroa. Viu também (descrito à parte com longa lenda de sua formação, quando de uma aparição de Nosso Senhor a um santo homem de Constantinopla) uma “toaille”, isto é, um pano com o rosto do Salvador (como a Verônica de Roma) e uma tela (ou placa de barro cozido) onde estava ela decalcada.
Mas foi em “Blachernes” que encontrou o Santo Sudário. Tudo isto escrito naquela rude língua d’oil do século XII, que vive ainda nos atuais dialetos valões. É necessário lê-lo em voz alta, com o sotaque do Norte, talvez ter também sangue valão nas veias, para saboreá-lo plenamente. Em tradução, ei-lo aqui (p. 90): “E entre estes outros havia ali um mosteiro, que chamavam Senhora Santa Maria de ‘Blachernes’, onde estava a Mortalha em que Nosso Senhor foi envolvido; e que cada sexta-feira era levada e estirada tão bem que nela se podia ver o retrato de Nosso Senhor. E não soube jamais nem grego nem francês o que aconteceu a esta Mortalha quando a cidade foi tomada”.
O Santo Sudário foi, portanto, roubado ou transformado em presa de guerra, se se quiser ser indulgente. Ora, segundo os historiadores de besançon, D. Chamard em particular, uma mortalha correspondente à descrição de Clari foi consignada, em 1208, às mãos do arcebispo de Besançon, por Ponce de La Roche, senhor do Franco-Condado, pai de Oto de La Roche, um dos principais chefes do exército borgonhês na Cruzada de 1204. Essa mortalha, que tem todos os indícios de ser o nosso atual Santo Sudário, continuaria a ser venerada na Catedral de Santo Estêvão até 1349. Notemos de passagem que Vignon emitiu dúvidas, em seu livro de 1938, sobre a estada em Besançon, mas, apesar disso, continua a ser muito provável a referida estada.
No citado ano de 1349, um incêndio devastou a Catedral, e o Santo Sudário desapareceu uma segunda vez, só seu relicário é que foi reencontrado. Fora roubado, e este fato explica provavelmente a falsa posição e as aventuras que geram ainda preconceitos no espírito de certos historiadores, cada vez mais raros, que se recusam a encarar o valor intrínseco do documento e de lhe examinar as imagens, sob o pretexto a priori de que isto não pode ser senão uma falsidade. Seria o mesmo que recusar estudar a lua, porque não lhe veremos jamais senão a metade!
A Mortalha reapareceu oito anos mais tarde, em 1357, como propriedade do conde Godofredo de Charny, que a recebeu como presente do rei Felipe VI. Este a teria recebido do ladrão, que se supões ter sido um tal Vergy. Charny colocou-a na Colegiada de Lirey (Diocese de Troyes), fundada por ele mesmo alguns anos antes. Ora, mais ou menos na mesma época reaparece, em Besançon, uma outra mortalha da qual temos numerosas cópias, e que era evidentemente uma incompleta e má reprodução em pintura da de Lirey. Foi o que demonstraram, sem dificuldade, os enviados da Comissão de Segurança Pública, que a destruíram, de acordo com o clero da Catedral, em 1794.
A Mortalha de Lirey não deixou por isso de ser alvo das hostilidades dos bispos de Troyes: de início, Henrique de Poitiers; trinta anos mais tarde, Pedro d’Arcy, que se opuseram à sua exposição pelos cônegos de Lirey. Lamentavam-se de que os fiéis abandonavam as relíquias de Troyes, para correr em massa a Lirey. Os Charnys cedo retomaram a relíquia, guardando-a por trinta anos.
Em 1389 expuseram sua causa ao legado do novo papa de Avignon, Clemente VII, que acabava de iniciar o grande cisma do Ocidente, depois ao próprio antipapa em pessoa. Ambos autorizaram a exposição, não obstante a proibição do bispo Pedro d’Arcy. Depois, em face das reclamações deste, Clemente VII acabou por decidir, tentando um arranjo com ambas as partes, que por um lado o bispo não poderia mais se opor às exposições, mas, por outro, declarar-se-ia em cada exposição tratar-se de uma pintura representando o verdadeiro Sudário de Nosso Senhor.
Pedro d’Arcy, em suas memórias, apresenta a Clemente graves acusações eivadas de rancor contra os cônegos de Lirey, a respeito de simonia por parte destes. Acrescenta, como se fosse verdade, que seu predecessor teria feito uma pesquisa e recebido a confissão do pintor, autor da Mortalha.
Não se encontrou jamais vestígio algum dessa investigação nem das declarações do pintor. Se algum pintor houve, parece muito provável ter sido o que copiou o Sudário de Lirey para fazer o de Besançon. Na realidade, todas as decisões não foram motivadas senão por questões de interesse particular e pelo argumento do silêncio dos Evangelhos sobre a existência das impressões. Parece que o sudário nunca foi examinado diretamente, sem parcialidade, pois se teria então visto como se vê hoje, que não tem ele o menor sinal de pintura. Mas o pseudopapa Clemente VII nunca se mostrou preocupado com isto.
É muito difícil resumir disputas um tanto sórdidas. Mas bem parece poder concluir-se que o pobre Sudário não tinha senão um defeito, o de não possuir “autênticas”. No entanto, como possuí-las, se sua presença em Lirey era o resultado de duplo furto, sendo que o segundo comprometia o próprio rei da França como acoutador de furtos? Foi precisamente a falta de carteira de identidade que, em toda a parte, ocasionou dificuldades ao último proprietário, Margarida de Charny, quando o levou para Chimay, na Bélgica. Deste modo, após numerosas peregrinações, em 1452, ela o haveria de doar a Ana de Lusignan, esposa do dique de Saboia.
Foi assim que chegou a Chambéry e tornou-se o que é ainda hoje, propriedade da casa de Saboia, até há pouco reinante na Itália. Queira Deus que chegue um dia a seu porto de destino natural, às mãos do Sumo Pontífice, sucessor de São Pedro e Vigário de Jesus Cristo, o único homem no mundo que tem verdadeiros direitos sobre esta relíquia!
A história do Santo Sudário torna-se daí para cá bastante conhecida. O duque de Saboia mandou-lhe construir uma “Santa Capela” em Chambéry. Sucedem-se as exposições e fazem-no ferver no óleo e lavaram-no com sabão, várias vezes, sem poder apagar suas impressões. Ideia assombrosa, se é que a crônica é verídica, mas que supões uma decidida e fera vontade de certeza.
Como se os homens não bastassem, irrompeu um incêndio na Santa Capela, em 1532, que por pouco não destruiu a relíquia. Uma gota de prata derretida queimou um canto do tecido, dobrado em seu relicário, causando-lhe assim duas séries de abrasamentos que encontramos a intervalos regulares. Felizmente os buracos ficaram dos lados da impressão central. A água empregada para extinguir o incêndio deixou largos círculos simétricos em toda a extensão do Sudário. Foi este o segundo incêndio depois do segundo furto.
Pelo menos um feliz resultado obteve-se daí: a devassa canônica para estabelecer a autenticidade do Sudário danificado, e sua reparação pelas Clarissas de Chambéry, que foi acompanhada de processo-verbal descritivo e minucioso, feito por essas virtuosas moças.
O Sudário ainda peregrinou bastante, seguindo as vicissitudes políticas de seu proprietário, chegando, finalmente, em 1578, a Turim, onde São Carlos Borromeu o venerou. Emitira o voto de ir a Chambéry, mas o duque de Saboia poupou-lhe a travessia dos Alpes, de modo que só teve de ir a pé de Milão a Turim.
Foi, depois, colocado na Santa Capela, anexada à catedral de São João, na mesma cidade de Turim, onde muito raramente é exposta, dependendo isto de permissão especial da Casa de Saboia, que não é nada pródiga. As últimas foram em 1898 (primeira fotografia), 1931 e 1933. Esta última foi obtida em razão do centenário tradicional da morte de Jesus (mas provavelmente inexato).
Trecho extraído do livro “A Paixão de Cristo segundo o Cirurgião”, de Dr. Pierre Barbet
BARBET, P.A Paixão de Cristo segundo o Cirurgião. Trad. Pe. José Alberto de Castro Pinto.12ª edição. Ed. Loyola e Ed.Cléofas, São Paulo,2014.
O Santo Sudário pode realmente ser do século I d.C.
Pesquisa liderada pelo professor Giulio Fanti parece desmentir as datações anteriores
O Santo Sudário nunca deixa de surpreender. O professor Giulio Fanti, especialista italiano de renome mundial em estudos sobre o Sudário de Turim, acaba de publicar um texto cujo título é bastante provocativo: “O Santo Sudário: primeiro século depois de Cristo”. Liderada por ele, uma equipe da Universidade de Pádua realizou experimentos de datação do Sudário com base em análise mecânica e optoquímica e os resultados são vários pontos de exclamação.
Apresentamos a seguir uma conversa com Fanti.
Em 1988, com grande alarde, a datação que utilizou o carbono 14 concluiu que o Sudário era da época medieval. O que os seus estudos têm a dizer de diferente disso?
Os resultados das nossas análises determinaram que é razoável datar o Sudário no século I d.C., a época em que Jesus de Nazaré viveu na Palestina. O trabalho que nós fizemos produziu resultados compatíveis entre si, indicando uma data em torno de 33 a.C., com uma incerteza de mais ou menos 250 anos. Eu quero lembrar que estas análises são científicas e não pretendem ter a última palavra, mas chegamos a essas conclusões usando três métodos independentes que dão resultados coerentes entre si. Estamos aguardando as reações do mundo científico, que, por enquanto, parecem positivas.
Em 1988, então, alguma coisa deu errado?
Uma importante revista de estatística publicou um estudo recente que mostra que os resultados de 1988 foram afetados por um erro sistemático, devido a um provável efeito ambiental. A data encontrada não faz sentido cientificamente. Existem também estudos de outros tipos que indicam que o Sudário não pode ser considerado medieval, que ele já era conhecido em tempos antigos. São pesquisas numismáticas sobre os rostos de Cristo retratados em moedas antigas. Esses estudos indicaram que as primeiras moedas cunhadas com a face de Cristo pelo Imperador Justiniano II, a partir de 692 d.C., devem ter usado o Sudário como modelo de referência. Isso teria acontecido seis séculos antes da datação apontada pelo carbono 14.
Datação à parte, a imagem do homem do Sudário continua sendo um mistério
A ciência mostrou que a imagem corpórea do Sudário não é reproduzível nem mesmo hoje em dia com todas as suas características macroscópicas e microscópicas, que são particularíssimas. Quando você consegue fazer alguma coisa aceitável do ponto de vista macroscópico, não consegue satisfazer uma série de características microscópicas, e vice-versa. O que hoje nós podemos supor razoavelmente é que a imagem do Homem do Sudário se formou a partir de uma notável explosão de energia, que veio de dentro do corpo envolvido nela.
Esta “explosão” seria a ressurreição de Cristo narrada nos Evangelhos?
Do ponto de vista científico, é muito complexo estabelecer as causas que podem ter determinado o efeito da imagem do Sudário. Recentemente, alguém falou em terremoto. O fenômeno da ressurreição poderia resolver esse dilema. Nós temos que levar em conta que o sangue humano que está no tecido de linho não tem o menor vestígio de manchas, que teriam surgido se o cadáver que estava envolto nele tivesse sido removido fisicamente. O que podemos pensar é que o homem saiu do linho depois de se tornar mecanicamente transparente.
Mas o homem do Sudário é realmente Jesus de Nazaré?
Os estudos científicos até hoje não deram respostas conclusivas sobre a identidade do homem que foi enrolado no Sudário. A ciência humana tem que admitir as suas limitações, mas a ciência admite a fé e vice- versa. Desta perspectiva, considerando que os Evangelhos confirmam tudo o que pode ser observado no Sudário e acrescentam mais informações sobre o que aconteceu naquele domingo de Páscoa, não é difícil pensar que aquele homem é Jesus Cristo, ressuscitado dos mortos.
Você poderá encontrar um estudo mais aprofundado no livro: “A Paixão de Cristo segundo o cirurgião”, de Pierre Barret. Este, durante 20 anos se debruçou em pesquisas sobre o Santo Sudário, para estudar a Paixão de Cristo cientificamente; e ao concluir seus estudos, confessou como católico, não mais conseguir terminar a Via-Sacra. Barret afirma que, após investigar todo o sofrimento de Jesus em sua Paixão, ao reviver as estações da Via Sacra, começa a sentir-se mal e chega até a desmaiar; pois ele como cientista conseguiu compreender profundamente o sofrimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Este livro inclusive, é uma boa indicação de leitura para nos prepararmos para viver bem a o tempo quaresmal.
Quando a ciência confirma o milagre
Desde os povos mais antigos, dos quais temos algum documento ou notícia, distinguem-se claramente dois pontos em comum entre todos eles: a existência de uma religião, e a de um grupo de pessoas que se dedicava ao estudo, sobretudo de ciências medicinais.
Essas características são notórias também no povo eleito. Além dos mestres da Lei, classe sacerdotal, profetas e outras personalidades da sociedade espiritual, nós encontramos homens aos quais a Providência dotou de uma especial capacidade para outras ciências. Por exemplo, quando David decide fazer a construção do grande Templo, realizada por seu filho Salomão, Deus designa, Ele mesmo, aqueles que devem trabalhar a prata e o ouro, outros que deverão entalhar a madeira, e afirma que eles possuem um especial dote para essas tarefas.
Com o advento do cristianismo, a humanidade cresceu inegavelmente no conhecimento, desenvolvimento e aproveitamento de todas estas ciências. Deve-se isso tanto à experiência herdada de seus ancestrais, quanto, sobretudo, ao valor infinito do preciosíssimo Sangue de Cristo.
À medida que os homens se foram abrindo à influência da Igreja, foram-se tornando cada vez mais eficientes em seus estudos e atividades. É o percurso realizado pelo bárbaro até chegar ao homem medieval. Vemos, por exemplo, qual foi o progresso havido na arquitetura e engenharia alcançado pelos medievais. Basta entrarmos em alguma velha catedral gótica da Europa para disso obtermos uma bela prova. Ou ainda, o constante avanço que teve a música em todos seus aspectos, chegando até homens de memória imortal como um Handel ou Mozart. Que dizer ainda do próprio cultivo agrícola? Da culinária? Da arte? Dos ambientes, costumes e civilizações?
Entretanto, em determinado momento, a humanidade decidiu voltar as costas a todas essas maravilhas trazidas por Cristo e pagas a preço de seu Sangue e converter-se em adoradora da pseudo-ciência, que outra coisa não era senão um disfarce para esconder que se adorava a si mesma, cometendo o grave erro de separar a Fé da ciência.
Se a ciência fosse portadora de uma filosofia, o que se discute muito hoje, talvez a abertura ao fenômeno da Fé, e ao próprio Deus, devessem constar, ao menos como hipótese, na sua suposta imparcialidade. Caso ela não pretenda abranger esta famosa impossibilidade ontológica, no seu parecer, relegando-a a mero sensitivismo, parece então sair um pouco de seus padrões as bandeiras tantas vezes desfraldadas e que pretendem abalar os fundamentos mais básicos da crença humana, pisoteando tantas vezes a história, a religião e a cultura e passando um atestado de incapacidade e estultice a uma humanidade que já leva muitos anos peregrinando nesta terra… Esquecem-se que a religião não visa explicar como funciona o céu e a terra, mas como se comportar na terra para alcançar o Céu. Ao entrar neste domínio, a ciência olvida-se de estar a passar uma fronteira e a penetrar em um território que não lhe pertence.
Separação radical? Não! Respeito mútuo e colaboração. É inegável o avanço da ciência em nossos dias. Assim como num cadáver a barba cresce por algumas horas, assim a humanidade progrediu em alguns pontos… Mas, terá avançado tanto quanto se o tivesse feito por amor a Deus?
Quando a religião e a ciência decidem colaborar, unindo as mãos em busca de resultados que visam, acima de tudo, a dignidade humana, unem-se as ferramentas de trabalho certas com a caridade, o desejo de verdade com a própria Verdade.
Um fato ilustra bem a que ponto se pode chegar neste trabalho conjunto, mesmo se para isso seja necessário superar as agruras e dificuldades iniciais…
No ano de 1977, David Rolfe, com apenas vinte e seis anos de idade, ateu convicto e persuadido da “falsidade” da religião católica, decide estudar a fundo o Santo Sudário de Turim, com o firme propósito de demonstrar sua falsidade, como ele mesmo declara.
Iniciando, porém, sua pesquisa, começa a tomar contato com outras pessoas e grupos que também estudam o Sagrado Tecido, mas cada um desses grupos o fazem desde áreas diferentes. Alguns são anatomistas, outros estudam o tecido em si mesmo, outros ainda são químicos, enfim, muitas outras áreas.
Com o decorrer do tempo começam a aparecer provas da veracidade da relíquia. Por exemplo, Ian Wilson, utilizando seu conhecimento das gravuras artísticas de Cristo, formulou idéia de ligação com Mandylion de Edessa, nome pelo qual era conhecido o Santo Sudário nesta cidade e onde permaneceu até 943, segundo hipótese da revista GALILEU. [1]
Noutra prova, o botânico e perito judiciário, Max Frei, encontra 58 tipos diferentes de polens no tecido, e afirma serem a maior parte deles da região da Palestina, alguns inclusive extintos, datando de há 2000 anos atrás.
Muitos cientistas, como soe acontecer, desmentem a veracidade da relíquia e desacreditam a seriedade das pesquisas realizadas. Entretanto, a maior parte deles diz que a ciência é limitada e que ainda não pode explicar todos os fenômenos. Poderá algum dia?…
Já inseguro em seu ateísmo, David começa um processo que resultará em sua conversão. Faz então seu documentário no qual expõe todas as provas da veracidade da preciosa relíquia. Elabora seu famoso filme sobre o Sudário que é, até hoje, umBest seller sobre a matéria. De ateu convicto, passou a fervoroso católico.
O fato mais importante, e pelo qual nos propusemos fazer este artigo começa agora. Em 2008, David fez um documentário para a BBC e a RAI sobre seu estudo. Para isso, foi-lhe permitido o acesso ao Santo Sudário, que ele filmou com máquinas de última geração que gravam em High Definition, o que, por sua vez, permite visualizar o objeto filmado em três dimensões. Descobriu, então, que o Sudário é um objeto único e “adaptado” para ser apanhado em 3D, pois contém em si mesmo elementos tridimensionais. Diz David que podemos nos colocar duas questões: Quem pode ser a Pessoa impressa no tecido senão o Fundador do Cristianismo? E o processo que produziu a imagem neste mesmo tecido não pode ser outro senão o evento que mudou a história do mundo, a Ressurreição?
O pesquisador se pergunta se o Sudário não terá sido um presente de Cristo para nossa época.
O que é certo, isto sim, é que nossa época, para chegar a bom termo, deve voltar-se para Ele. E não seremos nós mesmos o melhor presente?
Por Samuel Vitor Linares
Baseado em uma notícia recolhida em: L’Osservatore Romano – 19 maggio 2010
[1] http://revistagalileu.globo.com/EditoraGlobo/componentes/article/edg_a Abril de 2003, n° 141
As provas da Ressurreição de Jesus
A Igreja não tem dúvida em afirmar que a Ressurreição de Jesus foi um evento histórico e transcendente. No §639 o Catecismo afirma: “O mistério da Ressurreição de Cristo é um acontecimento real que teve manifestações historicamente constatadas, como atesta o Novo Testamento. Já S. Paulo escrevia aos Coríntios pelo ano de 56: Eu vos transmiti… o que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas, e depois aos Doze” (1Cor 15,3-4). O apóstolo fala aqui da viva tradição da Ressurreição, que ficou conhecendo após sua conversão às portas de Damasco.
O primeiro acontecimento da manhã do Domingo de Páscoa foi a descoberta do sepulcro vazio (cf. Mc 16, 1-8). Ele foi a base de toda a ação e pregação dos Apóstolos e foi muito bem registrada por eles. São João afirma: “O que vimos, ouvimos e as nossas mãos apalparam isto atestamos” (1 Jo 1,1-2). Jesus ressuscitado apareceu a Madalena (Jo 20, 19-23); aos discípulos de Emaús (Lc 24,13-25), aos Apóstolos no Cenáculo, com Tomé ausente (Jo 20,19-23); e depois, com Tomé presente (Jo 20,24-29); no Lago de Genezaré (Jo 21,1-24); no Monte na Galiléia (Mt 28,16-20); segundo S. Paulo “apareceu a mais de 500 pessoas” (1 Cor 15,6) e a Tiago (1 Cor 15,7).
S. Paulo atesta que Ele “… ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e foi visto por Cefas, e depois pelos Onze; depois foi visto por mais de quinhentos irmãos duma só vez, dos quais a maioria vive ainda hoje e alguns já adormeceram; depois foi visto por Tiago e, em seguida, por todos os Apóstolos; e, por último, depois de todos foi também visto por mim como por um aborto” (1 Cor 15, 3-8).
“Deus ressuscitou esse Jesus, e disto nós todos somos testemunhas” (At 2, 32), disse São Pedro no dia de Pentecostes. “Saiba com certeza toda a Casa de Israel: Deus o constituiu Senhor (Kýrios) e Cristo, este Jesus a quem vós crucificastes” (At 2, 36). “Cristo morreu e reviveu para ser o Senhor dos mortos e dos vivos”.(Rm 14, 9). No Apocalipse, João arremata: “Eu sou o Primeiro e o Último, o Vivente; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos, e tenho as chaves da Morte e da região dos mortos” (Ap 1, 17s).
Toda a pregação dos Discípulos estava centrada na Ressurreição de Jesus. Diante do Sinédrio Pedro dá testemunho da Ressurreição de Jesus (At 4,8-12). Em At 5,30-32 repete. Na casa do centurião romano Cornélio (At 10,34-43), Pedro faz uma síntese do plano de Deus, apresentando a morte e a ressurreição de Jesus como ponto central. S. Paulo em Antioquia da Pisídia faz o mesmo (At 13,17-41).
A presença de Jesus ressuscitado era a manifestação salvífica definitiva de Deus, inaugurando uma nova era na História humana; era a força do Apóstolos. Jesus ressuscitado caminhou com eles ainda quarenta dias e criou a fé dos discípulos e não estes que criaram a fé no Ressuscitado.
A primeira experiência dos Apóstolos com Jesus ressuscitado, foi marcante e inesquecível: “Jesus se apresentou no meio dos Apóstolos e disse: “A paz esteja convosco!” Tomados de espanto e temor, imaginavam ver um espírito. Mas ele disse: “Por que estais perturbados e por que surgem tais dúvidas em vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! “Apalpai-me e entendei que um espírito não tem carne nem ossos, como estais vendo que eu tenho”. Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, como, por causa da alegria, não podiam acreditar ainda e permaneciam surpresos, disse-lhes: “Tendes o que comer?” Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o então e comeu-o diante deles”. (Lc 24, 34ss)
Os Apóstolos não acreditavam a principio na Ressurreição do Mestre. Amedrontados, julgavam ver um fantasma, Jesus pede que o apalpem e verifiquem que tem carne e ossos. Nada disto foi uma alucinação, nem miragem, nem delírio, nem mentira, e nem fraude dos Apóstolos, pessoas muito realistas que duvidaram a principio da Ressurreição do Mestre. A custo se convenceram. O próprio Cristo teve que falar a Tomé: “Apalpai e vede: os fantasmas não têm carne e osso como me vedes possuir” (Lc 24,39). Os discípulos de Emaús estavam decepcionados porque “nós esperávamos que fosse Ele quem restaurasse Israel” (Lc 24, 21).
Estes depoimentos “de primeira hora”, concebidos e transmitidos pelos discípulos imediatos do Senhor, são argumentos suficientes para dissolver qualquer teoria que quisesse negar a ressurreição corporal de Cristo, ou falar dela como fraude. Esta fé não surgiu “mais tarde”, como querem alguns, na história das primeiras comunidades cristãs, mas é o resultado da missão de Cristo acompanhada dia a dia pelos Apóstolos.
Com os Apóstolos aconteceu o processo exatamente inverso do que se dá com os visionários. Estes, no começo, ficam muito convencidos e são entusiastas, e pouco a pouco começam a duvidar da visão. Já com os discípulos de Jesus, ao contrário, no princípio duvidam. Não crêem em seguida na Ressurreição. Tomé duvida de tudo e de todos e quer tocar o corpo de Cristo ressuscitado. Assim eram aqueles homens: simples, concretos, realistas. A maioria era pescador, não eram nem visionários nem místicos. Um grupo de pessoas abatidas, aterrorizadas após a morte de Jesus. Nunca chegariam por eles mesmos a um auto-convencimento da Ressurreição de Jesus. Na verdade, renderam-se a uma experiência concreta e inequívoca.
Impressiona também o fato de que os Evangelhos narram que as primeiras pessoas que viram Cristo ressuscitado são as mulheres que correram ao sepulcro. Isto é uma mostra clara da historicidade da Ressurreição de Jesus; pois as mulheres, na sociedade judaica da época, eram consideradas testemunhas sem credibilidade já que não podiam apresentar-se ante um tribunal. Ora, se os Apóstolos, como afirmam alguns, queriam inventar uma nova religião, por que, então, teriam escolhido testemunhas tão pouco confiáveis pelos judeus? Se os evangelistas estivessem preocupados em “provar” ao mundo a Ressurreição de Jesus, jamais teriam colocado mulheres como testemunhas.
Os chefes dos judeus tomaram consciência do significado da Ressurreição de Jesus, e, por isso, resolveram apaga-la: “Deram aos soldados uma vultosa quantia de dinheiro, recomendando: “Dizei que os seus discípulos vieram de noite, enquanto dormíeis, e roubaram o cadáver de Jesus. Se isto chegar aos ouvidos do Governador, nós o convenceremos, e vos deixaremos sem complicação”. Eles tomaram o dinheiro e agiram de acordo com as instruções recebidas. E espalhou-se esta história entre os judeus até o dia de hoje” (Mt 28, 12-15). A ressurreição corporal de Jesus era professada tranquilamente pela Igreja nascente, sem que os judeus ou outros adversários a pudessem apontar como fraude ou alucinação.
Os Apóstolos só podiam acreditar na Ressurreição de Jesus pela evidência dos fatos, pois não estavam predispostos a admiti-la; ao contrário, haviam perdido todo ânimo quando viram o Mestre preso e condenado; também para eles a ressurreição foi uma surpresa.
Eles não tinham disposições psicológicas para “inventar” a notícia da ressurreição de Jesus ou para forjar tal evento. Eles ainda estavam impregnados das concepções de um messianismo nacionalista e político, e caíram quando viram o Mestre preso e aparentemente fracassado; fugiram para não ser presos eles mesmos (Cf. Mt 26, 31s); Pedro renegou o Senhor (cf. Mt 26, 33-35). O conceito de um Deus morto e ressuscitado na carne humana era totalmente alheio à mentalidade dos judeus.
E a pregação dos Apóstolos era severamente controlada pelos judeus, de tal modo que qualquer mentira deles seria imediatamente denunciada pelos membros do Sinédrio (tribunal dos judeus). Se a ressurreição de Jesus, pregada pelos Apóstolos não fosse real, se fosse fraude, os judeus a teriam desmentido, mas eles nunca puderam fazer isto.
Jesus morreu de verdade, inclusive com o lado perfurado pela lança do soldado. É ridícula a teoria de que Jesus estivesse apenas adormecido na Cruz.
Os vinte longos séculos do Cristianismo, repletos de êxito e de glória, foram baseados na verdade da Ressurreição de Jesus. Afirmar que o Cristianismo nasceu e cresceu em cima de uma mentira e fraude seria supor um milagre ainda maior do que a própria Ressurreição do Senhor.
Será que em nome de uma fantasia, de um mito, de uma miragem, milhares de fiéis enfrentariam a morte diante da perseguição romana? É claro que não. Será que em nome de um mito, multidões iriam para o deserto para viver uma vida de penitência e oração? Será que em nome de um mito, durante já dois mil anos, multidões de homens e mulheres abdicaram de construir família para servir ao Senhor ressuscitado? Será que uma alucinação poderia transformar o mundo? Será que uma fantasia poderia fazer esta Igreja sobreviver por 2000 anos, vencendo todas as perseguições (Império Romano, heresias, nazismo, comunismo, racionalismo, positivismo, iluminismo, ateísmo, etc.)? Será que uma alucinação poderia ser a base da religião que hoje tem mais adeptos no mundo (2 bilhões de cristãos)? Será que uma alucinação poderia ter salvado e construído a civilização ocidental depois da queda de Roma? Isto mostra que o testemunho dos Apóstolos sobre a Ressurreição de Jesus era convincente e arrastava, como hoje.
Na verdade, a grandeza do Cristianismo requer uma base mais sólida do que a fraude ou a debilidade mental. É muito mais lógico crer na Ressurreição de Jesus do que explicar a potência do Cristianismo por uma fantasia de gente desonesta ou alucinada. Como pode uma fantasia atravessar dois mil anos de história, com 266 Papas, 21 Concilios Ecumênicos, e hoje com cerca de 4 mil bispos e 416 mil sacerdotes? E não se trata de gente ignorante ou alienada; muito ao contrário, são universitários, mestres, doutores.
Prof. Felipe Aquino
Quem é o homem do Sudário?
Graças às modernas técnicas proporcionadas pela ciência, podemos reconstruir um semblante da pessoa que esteve envolvida pelo Santo Sudário?
A “fotografia” de uma crucificação
A tradição da Igreja e os resultados da pesquisa científica afirmam que, com altíssima probabilidade, o corpo cuja imagem foi impressa no tecido de Turim pertence a Jesus. De fato, o tecido mostra um homem adulto, de aproximadamente 40 anos, cerca de 1.80m, que mostra os sinais da flagelação e da crucificação, ao qual foi tributada uma sepultura honrosa.
A imagem que emerge do Santo Sudário é a de um cadáver martirizado, com a cabeça e a nuca feridas por um conjunto de objetos pontiagudos; os joelhos e o septo nasal escoriados e manchados de terra, como depois de uma queda; uma ampla ferida no lado, que foi aberta depois do falecimento; as munhecas e os pés atravessados por pregos; e as escápulas marcadas provavelmente por uma viga pesada.
A imagem que ficou estampada no tecido sindônico nos fala de um corpo que manifesta todos os sintomas do rigor mortis, a particular rigidez muscular que se dá após a morte: a cabeça está flexionada de forma forçada sobre o peito, sem que haja sinais de uma sustentação abaixo da nuca; e igualmente os membros superiores e inferiores têm uma posição nada natural. Em particular, a perfuração das munhecas e dos pés, a postura contraída do tórax e dos músculos das pernas, as escoriações deixadas por um grande suporte rígido sobre as costas mostram que o homem foi ajustiçado por meio da crucificação.
Antes de ser flagelado, ele foi desnudado e, de fato, sobre quase toda a superfície corporal, exceto no rosto, foram contadas 120 lesões paralelas, duas a duas, provocadas quase certamente por um chicote composto por um cabo ligado a duas tiras, ou longas tiras de coro que terminavam com dois pequenos pesos de chumbo. Neste caso, é preciso lembrar que ele recebeu 60 golpes.
A maior parte dos especialistas concorda em considerar que o homem do Sudário tinha 1.80m de altura. Os sinais de envelhecimento que se manifestam no seu rosto induzem a afirmar que ele tinha cerca de 40 anos. O septo nasal apresenta uma fratura e a parte direita do rosto está completamente intumescida. O sangue encontrado sobre o tecido, como demonstrou o cirurgião Pierluigi Baima Bollone, é humano, do grupo AB – o estatisticamente mais raro; na Europa, corresponde a 5% da população, enquanto entre os judeus a porcentagem é muito mais elevada – e contém uma grande quantidade de bilirrubina, algo típico em quem sofreu uma morte violenta. Na região do crânio, aparecem marcas de 20 feridas infligidas por objetos punçantes, iguais, dispostos na parte superior da cabeça, formando uma espécie de capacete.
As hemorragias dependem, em alguns casos, de feridas que o homem sofreu estando vivo, e de outras feitas após a sua morte. O exame de fluxo sanguíneo indica que o homem foi envolvido no tecido em um momento preciso – não mais que duas horas e meia depois de ter morrido. Na região das escápulas, as marcas aparecem aumentadas e ulceradas, como se ele tivesse transportado um grande objeto rígido – dado este que faz pensar no transporte do patibulum, a viga de madeira que pesava mais de 50kg e que era carregada pelo condenado até o lugar da execução; ela teria formado o braço horizontal da cruz e seria içada sobre um pau fincado na terra, chamado stipes.
Algumas anomalias – o transporte do patibulum, a utilização de pregos para as mãos e pés, a coroa de espinhos, o fato de que o corpo não tenha acabado em uma fossa comum –, além de tornar esta crucificação um caso muito particular, fazem pensar que se tratou de uma execução particularmente dura.
As lesões que aparecem são numericamente muito superiores às previsíveis em um condenado que deveria sofrer a execução capital. A flagelação mostra uma dura obstinação, um severo castigo. Segundo o costume romano, o número de chicotadas estava limitado pela proibição de matar o condenado, enquanto, entre os judeus, o número de chicotadas era limitado a 40, um número sagrado, como se lê em Deuteronômio 25, 3. Por isso, quando usavam o chicote com três extremos, os judeus só davam 39 chicotadas, para não expor-se ao perigo de ultrapassar este número limite.
Além disso, a imagem estampada no tecido demonstra que o corpo sofreu duas formas de violência não relacionadas com o costume romano: a presença das feridas puntiformes sobre o crânio e na nuca, além da ferida feita com uma arma punçante e afiada entre a quinta e a sexta costela.
Outra anomalia é que o ajustiçado não teve os ossos das pernas quebrados: o Deuteronômio proibia de deixar os cadáveres na cruz durante o pôr do sol, e a prática de fraturar as pernas (crurifragium) apressava a morte e permitia retirá-los antes do anoitecer.
A marca de sangue mais vistosa entre todas corresponde à verificada na parte direita do tórax, provocada por uma ampla ferida de fora a fora, possivelmente causada por uma lança. O sangue se apresenta dividido em seus dois componentes, isto é, a parte do soro e a parte corpuscular (glóbulos vermelhos): a divisão, chamada de “dessoração”, se produz somente depois da morte – por isso, a ferida que provocou a rasgadura do tórax foi realizada quando o homem já estava morto. A ferida foi feita antes de que o corpo chegasse ao rigor mortis, ou seja, antes de que começasse o processo natural de decomposição (depois de 36-48 horas).
Do tipo de tecido de linho e de como o cadáver foi tratado, podemos deduzir que o homem recebeu uma sepultura – apesar de ter sido muito honrosa – sem a purificação ritual prevista pela lei judaica.
Ao contrário do que previam os costumes funerários dos judeus, mencionados no Talmude, o cadáver separado da cruz, nu, sem ser lavado nem barbeado, foi depositado sobre um longo tecido. No entanto, o homem do Sudário, de acordo com a cultura judaica, foi sepultado em um linho branco, inclusive de grande valor. O Sudário havia sido tecido, de fato, com uma técnica chamada de “espinha de peixe”, utilizada certamente já antes da era cristã, mas da qual restam poucos exemplares, sobretudo em linho. O tecido apresenta a torção em Z, muito rara e complexa, na qual as fibras são obrigadas a retorcer-se no sentido contrário ao que tomariam espontaneamente secando-se ao sol.
O sudário pode ter sido produzido em ambiente judaico, pois, nas análises, não foram encontrados traços de fibras de origem animal, em observância à lei mosaica (Dt 22, 11), que prescrevia a separação entre a lã e o linho. Em último caso, parece que foram encontrados vestígios de algodão, identificadas como Gossypium herbaceum, difundido no Oriente Médio na época de Cristo. Este tipo de tecido deveria ser muito apreciado e ritualmente puro, pois com ele, segundo os costumes do judaísmo antigo, eram confeccionadas as cortinas do templo de Jerusalém, além de ser utilizado pelo Sumo Sacerdote – presidente do Sinédrio, que era o conselho supremo que governava comunidade judaica – para envolver-se após ter sido submergido 5 vezes no banho ritual obrigatório, no dia em que se celebrava o rito da Expiação (Yom Kippur), a festa mais sagrada. É raro, portanto, que o corpo de um condenado a um suplício infame, do qual eram isentos os cidadãos romanos – e que era reservado aos traidores, aos desertores e mais frequentemente aos escravos –, fosse envolvido em um sudário extremamente caro, para que fosse tirado pouco tempo depois, ao invés de ser jogado diretamente em uma fossa comum ou ser largado como alimento para as feras.
O lugar em que o homem do Sudário foi sepultado ou no qual o lenço esteve exposto durante mais tempo pode ser identificado por dois elementos: o pólen que ficou preso no tecido e que pertence a várias espécies vegetais existentes apenas no Oriente Médio (mais exatamente, concentradas em uma área que cerca a região de Jerusalém); e os restos de terreno encontrados, que contêm aragonite, um mineral não muito abundante, mas difundido nas imediações de Jerusalém.
As análises sobre o tecido sindônico permitiram comprovar a presença tanto de pólen europeu (em quantidade menor) como de pólen de plantas de vivem na região de Constantinopla, na estepe de Anatólia e nas ribeiras do Mar Morto. Estudando os diversos traslados da tela sindônica, comprováveis nos testemunhos cristãos mais antigos, os especialistas em botânica encontraram correspondências com o trajeto do Sudário, que parte de Jerusalém, passando depois pela Palestina, Edessa, Constantinopla, Lirey, Chambery, até chegar a Turim, em 1578.
O especialista Max Frei, após ter recolhido amostras de plantas durante a época de florescimento nas regiões geográficas nas quais a Síndone pode ter estado, identificou pólen de 58 plantas diferentes sobre o misterioso tecido, do qual nenhuma era uma espécie anemófila, ou seja, transportada pelo vento: algumas delas crescem unicamente em um território do mundo, que é a área que cerca Jerusalém. Posteriormente, Uri Baruch, examinando os preparados de Frei, confirmou a presença de Gundelia tournefortii – à qual pertencem 50% do pólen encontrado no Sudário –, de Zygophyllum dumosum e de Cistus creticus, plantas que vivem e florescem juntas. Depois, a identificação de outras 4 espécies, além daquelas três, levou o professor de botânica Avinoam Danin a afirmar que a sepultura talvez tenha acontecido entre os meses de março e abril.
Este indício – a presença de flores – dá a entender que este cadáver foi depositado com honras não permitidas em absoluto para os condenados à morte, que, segundo a norma, deveriam permanecer durante 12 meses no espaço infamante de um pequeno sepulcro público antes de que os seus restos fossem entregues aos seus parentes.
Além disso, em algumas amostras tomadas na região dos pés, havia restos de terra: o homem havia, portanto, caminhado descalço durante um tempo. As mesmas marcas foram encontradas em correspondência com a ponta do nariz e com o joelho esquerdo, que aparece visivelmente entumescido, como se o homem tivesse caído ao chão, machucando violentamente também o rosto, sem a possibilidade de se proteger com as mãos (talvez por estar impedido pelo patibulum). O especialista em cristalografia Joseph A. Kohlbeck e o físico Ricardo Levi-Setti observaram que estas amostras de terra contêm aragonite (um tipo de carbono cálcico), mineral raro, mas presenta na composição do terreno de Jerusalém.
Por meio da reconstrução da marca de duas moedas e de algumas inscrições encontradas sobre a tela do Santo Sudário, é possível formular a hipótese de que o homem foi sepultado entre os anos 29 e 30 d.C.
Depois de algumas análises levadas a cabo a partir de 1951, o Pe. Francis Filas afirmou ter identificado sobre a pálpebra direita do rosto sindônico marcas extremamente similares às existentes na cara de uma moeda, um dilepton lituus, que apresenta no verso o símbolo o “lituo” – ou seja, de uma espécie de cajado de pastor, presente em todas as moedas de Pilatos, cunhadas depois de 29 d.C. –, rodeado pela inscrição grega TIBEPIONƳ KAIƩAPOƩ: uma moeda que remonta, portanto, à época de Tibério.
Pierluigi Baima Bollone e Nello Balossino, por meio da elaboração da imagem bidimensional do arco superciliar esquerdo, mostraram, no entanto, a presença de sinais de remitiam provavelmente a um lepton simpulum, uma moeda de bronze que, além da reprodução no verso de uma copa ritual com a asa (simpulo), recolhe também a inscrição TIBEPIONƳ KAIƩAPOƩ LIS, que remonta ao ano XVI do imperador Tibério, que corresponde aos anos 29-30 d.C.
A presença de pequenas moedas, reflexo de um uso pagão que entrou no costume judaico, foi confirmada pelo achado de moedas nas cavidades orbitais de caveiras encontradas em Jericó, que remonta à época de Cristo, e em Boquet, no deserto de Judá, do início do século II d.C.
Conclusão
Ainda que a Igreja nunca tenha se pronunciado oficialmente e de forma definitiva sobre a identidade do homem representado no Sudário, ela incentiva a pesquisa científica sobre o tecido de Turim e todos os estudos realizados até agora convergem em uma resposta: o corpo misteriosamente estampado só pode ser, com uma probabilidade altíssima, o de Cristo, depois de ser tirado da cruz.
Tudo parece conduzir as investigações à Palestina do século I. Além disso, existe uma concordância substancial entre o relato dos evangelhos sobre a Paixão de Cristo e as informações extraídas do Sudário; tanto é assim, que algumas particularidades divergem da típica crucificação romana do século I.
– A cruel flagelação, exagerada, antes de uma crucificação (fala-se de 60 chicotadas). Jesus é flagelado no rosto e no corpo (Mt 27,26-30; Mc 15,15-19; Lc 23,16; Jo 19,1-3);
– A coroação de espinhos (não temos documentos que relatem um costume similar nas crucificações, nem entre os romanos, nem entre outros povos). Jesus foi revestido pelos soldados romanos com a coroa de espinhos e da capa púrpura para ser ridicularizado como rei dos judeus (Mt 27,29; Mc 15,17; Jo 19,2);
– O transporte do patibulum, o pau horizontal da cruz (nas crucificações, sobretudo nas massivas, costumavam preferir árvores ou cruzes ocasionais). Jesus transportou a sua própria cruz até o Gólgota (Mt 27,31-32; Mc 15,20-21; Lc 23,26; Jo 19,17).
– A suspensão na cruz com os pregos, ao invés das usuais cordas – uma particularidade que parece ser reservada a crucificações oficiais. No Evangelho de João, no episódio do apóstolo Tomé, diz-se que Jesus tinha os sinais da crucificação nas mãos, enquanto Lucas faz referência tanto às mãos quanto aos pés (Lc 24,39-40; Jo 20,25 e 20,27);
– A ausência de crurifragium, a fratura das pernas infligida para acelerar a morte. As pernas de Jesus não foram quebradas como as dos ladrões crucificados ao seu lado, porque ele morreu de forma insolitamente rápida, tanto que Pilatos se surpreendeu (Mc 15,44; Jo 19,32-33);
– A ferida no lado, feita depois da morte, um fato absolutamente raro. Jesus foi ferido com uma lança no lado, por um centurião, para confirmar que já estava morto. Da ferida saiu água misturada com sangue (Jo 19,34);
– A falta da unção, barba feita e vestes do cadáver, como era costume na época, e a sepultura precipitada. Jesus foi envolvido nu em um tecido e depositado em um sepulcro, logo depois de ser tirado da cruz, porque a noite se aproximava e era a vigília da Páscoa judaica, que coincidia, nesse ano, com o Shabbat, o dia de descanso da semana, no qual era proibido todo tipo de trabalho manual (Mt, 27,57-61; Mc, 15,42-47; Lc, 23,50-56; Jo 19,38-42);
– A envoltura do cadáver em um tecido precioso e a deposição em um túmulo próprio, ao invés de terminar em uma fossa comum. José de Arimateia, um rico membro do Sinédrio, obteve de Pilatos o corpo de Jesus, comprou o linho no qual ele foi envolvido e o sepultou num lugar que ele mesmo mandou escavar na rocha (Mt 27, 57-60; Mc 15, 42-46; Lc 23, 50-54; Jo 19, 38-41);
– O breve tempo de permanência no tecido. Jesus morreu tendo aproximadamente 37 anos, muito provavelmente na sexta-feira, 7 de abril do ano 30 d.C., por volta das 15h, depois de apenas 3 horas de agonia. Seu corpo permaneceu no túmulo desde as 18h, mais ou menos do mesmo dia, até as 6h do domingo, 9 de abril, quando Maria de Magdala, junto a outras mulheres, encontrou o sepulcro vazio (Mt 28,1-10; Mc 16,1-8; Lc 24,1-10; Jo 20,1-10).
MIRKO TESTA
Lançamento: Flores e Plantas do Santo Sudário
Nos últimos quatro anos de atividade acadêmica Avinoam Danin, um cientista botânico, judeu, dedicou-se à investigação interdisciplinar envolvendo a identificação de plantas vasculares, micro-organismos, e outros organismos e sua relação com o ambiente. O resultado de suas investigações com plantas vasculares e seus ambientes é visto refletido na publicação de 6 livros e 190 artigos em inglês, 5 livros e 251 artigos em hebreu, um livro bilíngue hebreu-inglês e outro em italiano.
Ele descobriu muitas espécies novas de plantas em Israel, Sinai e Jordânia. Por sua vez descobriu mais de 40 classificações novas na ciência, representando distintas famílias. O mapeamento da distribuição da vegetação de Israel em quadrados de 5 x 5 km, lhe permitiu criar uma base de dados de onde a Flora de Israel foi estudada e novos mapas fito-geográficos foram desenhados. Os mesmos foram utilizados em várias investigações forenses. A mais importante e recente faz referência à origem do Santo Sudário de Turim na vizinhança de Jerusalém.
Neste vídeo, o Prof. Felipe Aquino apresenta esta importante publicação da Editora Cléofas. Confira:
Encontrados no Santo Sudário restos de unguentos de 2 mil anos atrás
Valência, 01 de maio de 2012 (ACIDIGITAL) – A investigadora italiana Marzia Boi assegurou nesta segunda-feira, 30 de abril, em Valência que os restos de pólen encontrados no Santo Sudário de Turim não só correspondem com os que foram se depositando fortuitamente no tecido ao longo da história, mas também guardam uma correspondência “com os dos unguentos e flores que se utilizavam para ritos funerários há 2.000 anos”, informou a Arquidiocese de Valência em um comunicado.
O trabalho da pesquisadora, exposto no Congresso Internacional sobre o Santo Sudário que se celebra em Valência, se acrescenta a outros estudos apresentados neste simpósio que mostram a compatibilidade entre o corpo envolvido com a Síndone e o de Jesus Cristo.
Em sua exposição, Marzia Boi, que trabalha no laboratório de Botânica do departamento de Biologia da Universidade das Ilhas Balear, argumentou também que no Evangelho se descreve que a sepultura de Jesus foi realizada com honras de reis, “o que implicava a preparação do cadáver com bálsamos e óleos”.
Ao analisar no microscópio as fotos dos polens extraídos em anteriores investigações sobre o Santo Sudário, a investigadora identificou tipos de plantas que “conforme está documentado desde antigo”, eram usualmente utilizadas para os enterros.
Entre elas, no Santo Sudário há polens principalmente de Helichrysum, segundo sua observação, assim como láudano, terebinto, gálbano aromático ou lentisco.
A identificação dessas plantas supõe, segundo a Dra. Boi, “um dado adicional que confirma que o homem do Sudário poderia ser Jesus”.
A investigadora indicou que a revisão por parte de especialistas paleólogos de todos os “polens do sudário ajudaria a identificá-los melhor”. Do mesmo modo, ela reparou em que os óleos e ungüentos presentes no manto o conservaram por conterem potentes elementos repelentes de insetos e fungos.