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quarta-feira, 31 de agosto de 2016
O verdadeiro amor a Deus só existe quando é gratuito, desinteressado; por puro desejo de agradar a Deus.
Jesus disse a seus discípulos na noite da última Ceia: “Se me amais guardareis os meus mandamentos” (João 14,15). E no Sermão da Montanha alertou: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mateus 7,21).
Em outra ocasião Jesus disse a todos, algo que os quatro evangelistas narram de modos diferentes: ”Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz a cada dia e siga-me; porque, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas, quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á” (Lucas 9,23; Mt 16,24; Mc 8,34; Jo 12,25).
Essas passagens mostram que Jesus nunca prometeu riquezas, fortunas, prazer, honra, glória e outras coisas terrenas para o cristão; ao contrário, no Sermão da Montanha deixou bem claro: “Entrai pela porta estreita…” (Mateus 7,14).
Não sei com que base bíblica inventaram uma tal “teologia da prosperidade”, que outros chamam de “teologia da compensação”, “teologia da retribuição”, mas que na verdade é um “teologia de barganha”; uma triste troca de favores com Deus. Faz-se Deus de pronto-socorro; de banco, vai-se no bolso do Pai, como um filho interesseiro. Não se busca a sua glória, a edificação da Igreja e a salvação das almas. É o maior desvirtuamento que já vi do Evangelho, e que está causando escândalo.
O verdadeiro amor a Deus só existe quando é gratuito, desinteressado; por puro desejo de agradar a Deus. Quando Satanás se apresentou diante de Deus e o desafiou dizendo que Jó o renegaria e blasfemaria, se Deus lhe retirasse as bênçãos: sua família numerosa, seus bens, seu gado, etc., na verdade queria provar para Deus que ninguém seria capaz de amá-Lo gratuitamente. “É a troco de nada que Jó teme a Deus? Mas estende a tua mão e toca em tudo o que ele possui; juro-te que te amaldiçoará na tua face” (Jó 1, 9-11). Assim, de certa forma, Satanás estaria se justificando por ter se revoltado contra Deus. “Se ninguém te ama sem recompensa, então, eu estou justificado”.
Com a autorização de Deus, Satanás fez de tudo para que Jó blasfemasse contra Deus. Jó perdeu seus bens, seus filhos, seu gado, etc; mas não pecou: “Nu saí do ventre de minha mãe, nu voltarei. O Senhor deu o Senhor tirou: bendito seja o nome do Senhor! Em tudo isso, Jó não cometeu pecado algum, nem proferiu contra Deus blasfêmia alguma” (Jó 1,21-22).
Por fim Satanás pediu a Deus autorização para tirar a saúde de Jó, o que foi feito, ficando com uma lepra da cabeça aos pés; mas Jó continuou firme. Sua mulher desesperou-se e blasfemou: “Persistes ainda em tua integridade? Amaldiçoa a Deus, e morre!” (2.9). Mas Jó foi fiel até o fim e deu a resposta da fé à esposa: “Aceitamos a felicidade da mão de Deus; não devemos também aceitar a infelicidade? Em tudo isso, Jó não pecou por palavras” (2,10).
Que beleza! Que amor a Deus! Que lição de vida! Amor verdadeiro a Deus. Se Satanás ganhasse a parada diante de Deus, mostraria ao Senhor que ninguém é capaz de amá-lo sem recompensas, gratuitamente, e que, portanto, as relações dos homens com Deus são interesseiras e utilitárias.
Se isso fosse conosco, agiríamos como Jó ou como sua esposa?
Qual seria a nossa atitude diante de Deus se perdêssemos a saúde, o emprego, o pai, a mãe, um filho, algum irmão… a esposa, o esposo?
Será que somos capazes de amar a Deus e servi-lo totalmente e gratuitamente, mesmo quando estou passando pelo “vale da morte”, como Jó? Somos capazes de rezar mesmo quando não ouvimos mais a voz de Deus? Ainda assim, sou capaz de continuar a testemunhar que Deus é amor, bondade, misericórdia… mesmo quando na noite escura da fé não tenho mais nenhuma revelação e não ouço mais a voz de Deus?
São João de Ávila, que o Papa Bento XVI vai proclamar doutor da Igreja, disse: “Eu oro para que Deus abra os nossos olhos e nos permita ver os tesouros escondidos que Ele nos concede nos sofrimentos dos quais o mundo só pensa em fugir”.
Infelizmente muitos só sabem orar para pedir. Jesus mandou pedir o pão de cada dia – não o supérfluo – , mas antes mandou rezar: “Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso Nome, venha nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade”. Acima de tudo devemos adorá-lo sem nenhum desejo de recompensa, de barganha. Ai está o sentido profundo da espiritualidade e do verdadeiro amor a Deus.
Mas a prova radical que Deus nos deu de que é possível amá-lo “até o fim” (João 13, 1), sem esperar recompensa, sem usar Deus, sem desejo utilitarista e interesseiro, foi dado por Jesus na cruz. Deus permitiu que Satanás levasse Jesus ao sofrimento mais profundo que um ser humano podia passar. Esperava certamente que Jesus blasfemasse, como a mulher de Jó e ele pudesse cantar vantagem diante de Deus Pai. Seria a vitória de Satanás.
Mas Jesus, mesmo aniquilado, flagelado, coroado de espinhos, torturado, pendurado por três pregos durante três horas…, lavado em sangue, e mesmo diante do silêncio do Pai, atira-se confiante em suas mãos: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito!” Satanás foi derrotado; Jesus amou o Pai até o fim, gratuitamente, sem condições.
Se Deus tirasse todos os estímulos de nossa devoção, como reagiríamos? Será que continuaríamos com o mesmo ardor e louvor, apostolado e testemunho?
Quando Deus nos submete à prova – e só Ele sabe por que – , certamente Satanás está atento para desafiá-lo.
Enfim, amar a Deus é servi-lo e louvá-lo, em quaisquer circunstâncias, simplesmente porque Ele é Deus, e nosso Pai, nosso Criador, nada mais.
Prof. Felipe Aquino
http://cleofas.com.br/amar-a-deus-pelo-que-ele-e/