“Fulano já ressuscitou". Quem nunca ouviu, durante algum funeral ou missa de sétimo dia, fiéis falarem ou padres encomendarem a alma de um defunto com essas palavras?
Mas o que a Igreja ensina a respeito da ressurreição? Você sabe quando ela realmente acontece? E qual é, afinal, o jeito certo de falar: ressurreição “dos mortos" ou ressurreição “da carne"?
Descubra, neste vídeo, “A Resposta Católica" para essas questões.
A Igreja Católica possui fórmulas dogmáticas que contém os principais pontos de sua fé e são utilizadas tanto na Liturgia quanto na Catequese, são os chamados "símbolos". Sendo assim, tem-se no Símbolo Apostólico a seguinte expressão: "Creio [...] na ressurreição da carne..." e no Símbolo Niceno-constantinopolitano: "[...] E espero a ressurreição dos mortos...", portanto, as duas expressões estão corretas.
A Congregação para a Doutrina da Fé percebeu que em certos missais em algumas partes do mundo a palavra "carne" fora substituída pela palavra "corpo", por isso, no dia 14 de dezembro de 1983, sob a presidência do então Cardeal Joseph Ratzinger, emitiu o documento "Decisões sobre a tradução do artigo 'Carnis resurrectionem' do Símbolo Apostólico" [1], no qual pediu que todas as Conferências Episcopais usassem a tradução literal da expressão que é "ressurreição da carne" e não outras semelhantes.
A questão é bastante profunda, pois existe uma corrente teológica que insiste erroneamente em afirmar que existe uma ressurreição logo após a morte. É comum durante exéquias ou em homilias ouvir que aquele irmão que está sendo velado já ressuscitou. É comum, mas, é incorreto, pois a Igreja ensina que a ressurreição será somente no final dos tempos.
A Igreja crê que ao afirmar a ressurreição da carne está sendo mais clara e enfática no fato de que aquela carne que está sendo velada e sepultada é que ressuscitará no último dia. No dia 17 de março de 1979, a mesma Congregação para a Doutrina da Fé emitiu uma carta versando sobre "questões referentes à escatologia", a seguir transcrita:
"Esta Sagrada Congregação, responsável pela promoção e a proteção da doutrina da fé, quer aqui lembrar o que a Igreja em nome de Cristo ensina, de modo especial a respeito do que acontece entre a morte do cristão e a ressurreição universal.
1. A Igreja crê na ressurreição dos mortos.
2. A Igreja entende que a ressurreição se refere ao homem todo; para os eleitos, ela outra não é senão a extensão da própria ressurreição de Cristo aos homens.
3. A Igreja afirma a continuação e a subsistência, depois da morte, de um elemento espiritual dotado de consciência e vontade, de modo a existir no tempo intermédio o próprio 'eu humano', carecendo porém do complemento do corpo. Para designar este elemento, a Igreja emprega o termo 'alma', consagrado pelo uso da Sagrada Escritura e da Tradição. Embora não ignore que este termo possui diversos sentidos na Bíblia, julga, todavia, que não se pode dar nenhuma razão válida para rechaçá-lo e, ao mesmo tempo, julga ser absolutamente necessário um termo de linguagem para sustentar a fé do cristãos.
4. A Igreja exclui toda forma de pensamento ou de expressão que torne absurdo ou ininteligível seu modo de orar, seus ritos fúnebres, seu culto dos mortos - realidades estas que, substancialmente, constituem lugares teológicos.
5. A Igreja, em conformidade com as Sagradas Escrituras, espera 'a gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo', que, aliás, ela crê distinta e ulterior em comparação com a condição dos homens imediatamente após a morte.
6. A Igreja, em seu ensinamento sobre a condição do homem depois da morte, exclui, porém, qualquer explicação que esvazie o sentido da Assunção da Virgem Maria no que tem de único; a saber, nesse sentido, que a glorificação corpórea da Virgem é a antecipação da glorificação reservada a todos os eleitos.
7. A Igreja, em adesão fiel ao Novo Testamento e à Tradição, crê na felicidade dos justos que um dia estarão em Cristo. Ela crê no castigo eterno que espera o pecador, que será privado da visão de Deus, e na repercussão desta pena em todo seu ser. Crê, enfim, que para os eleitos possa haver uma eventual purificação prévia à visão divina, totalmente diversa, porém, do castigo dos condenados. É isso que a Igreja entende quando fala do inferno e do purgatório.
Quando se trata da condição do homem depois da morte é preciso precaver-se, de modo especial, do perigo de representações arbitrárias e baseadas só na imaginação, pois seus excessos formam parte importante das dificuldades que amiúde a fé cristã encontra. As imagens usadas pela Sagrada Escritura, no entanto, merecem respeito. É necessário compreender o significado profundo das mesmas, evitando o perigo de atenuá-las demais, pois isso vale muitas vezes a esvaziar de seu conteúdo as realidades que estas imagens representam.
Nem a Sagrada Escritura, nem os teólogos fornecem luz suficiente para uma descrição adequada da vida depois da morte. Os fiéis cristãos devem manter firmemente estes dois pontos essenciais: por um lado, crer na continuidade fundamental existente, em virtude do Espírito Santo, entre a vida presente em Cristo e a vida futura (pois a caridade é a lei do reino de Deus, e pela nossa caridade exercida na terra se medirá nossa participação na glória divina no céu); mas, por outro lado, o cristão deve estar consciente da ruptura radical que há entre a vida presente a futura, já que a economia da fé é substituída pela economia da luz plena, e nós estaremos em Cristo e 'veremos Deus'; e nestas promessas e mistério consiste essencialmente nossa esperança. se a imaginação não consegue chegar até aí, o coração chega instintivamente e em profundidade." (DH 4650-4659)
Como se vê, o documento acima é bastante claro quanto à crença católica de que somente existirá uma ressurreição no final dos tempos, que não será simbólica, mas abrangerá o corpo e a alma do indivíduo. Como isso acontecerá é um mistério inalcançável à mente humana.
No ano de 1990, a Comissão Teológica Internacional, ligada à Congregação para a Doutrina da Fé, emitiu um parecer - sem caráter doutrinal - intitulado "Algumas questões atuais de escatologia", que fala que a ressurreição somente acontecerá na chamada parusía, ou seja, na volta de Jesus Cristo, num acontecimento histórico e futuro, derrubando por terra os dizeres dos teólogos modernistas.
Além disso, a Igreja deixa claro que somente Maria Santíssima ressuscitou, na chamada "Assunção", todos os demais aguardam a volta de Jesus Cristo, embora seja sabido que a causa da ressurreição de todos, no final, é a ressurreição do próprio Cristo, fonte da ressurreição de todos os mortos e vivos. Na glória de Deus todos estarão de corpo e alma, por isso, ressurreição dos mortos ou ressurreição da carne.
Referências
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19831214_carnis-resurrectionem_sp.html
https://padrepauloricardo.org/episodios/ressurreicao-dos-mortos-ou-ressurreicao-da-carne?utm_content=buffer970a9&utm_medium=social&utm_source=facebook.com&utm_campaign=buffer