Posted by : Unknown
sábado, 3 de setembro de 2016
Concílio Ecumênico de Calcedônia (451):
”Na linha dos Santos Padres, ensinamos unanimemente a confessar um só e mesmo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, o mesmo perfeito em divindade e perfeito em humanidade, o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto de uma alma racional e de um corpo, consubstancial ao Pai segundo a divindade, consubstancial a nós segundo a humanidade, ‘semelhante a nós em tudo, com exceção do pecado’ (Hb 4, 15); gerado do Pai antes de todos os séculos segundo a divindade, e nesses últimos dias, para nós e para a nossa salvação, nascido da Virgem Maria, Mãe de Deus, segundo a humanidade.”
”Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único, que devemos reconhecer em duas naturezas, sem confusão, sem mudanças, sem divisão, sem separação. A diferença de naturezas não é de modo algum suprimida pela sua união, mas antes as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas em uma só pessoa e uma só hipótese” (DS 301-302).
São Leão Magno (400-461) a Flaviano:
Da Carta a Flaviano, patriarca de Constantinopla; redigida em 449 por S. Leão, Papa, onde expôs a doutrina cristológica das duas naturezas em Cristo, numa única pessoa divina. Esta bela e importante Carta lida no Concílio de Calcedônia (451), contra a heresia monofisista de Êutiques e Dióscoro, os quais negavam que em Cristo houvesse as duas naturezas, humana e divina; mas apenas a divina. A Carta de Leão Magno foi aclamada pelos Padres concilares com essas palavras: ‘Pedro falou pela boca de Leão’. E a questão finda.
Leão, bispo, ao dileto irmão Flaviano, bispo de Constantinopla
Cristo entregou-se totalmente pela redenção do homem que fora seduzido, a fim de vencer a morte e destroçar por sua própria virtude o diabo que possuía o império da morte. Não poderíamos vencer o pecado e o autor da morte a não ser que assumisse a nossa natureza e a fizesse sua, aquele a quem o pecado não pôde contaminar, nem a morte reter.
Visto que foi concebido por virtude do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, esta o deu à luz conservando intacta a virgindade, como sem detrimento da virgindade o concebera.
O Espírito Santo deu fecundidade à Virgem, no entanto, a constituição do corpo originou-se do corpo (virginal).
Salvaguardadas pois, as propriedades de ambas as naturezas e substâncias, unidas numa só Pessoa, foi assumida a humildade pela majestade, pela força a fraqueza, pela eternidade a mortalidade. Para obter o débito de nossa condição, a natureza inviolável uniu-se à passível. Assim, como remédio conveniente à nossa cura, um só e mesmo mediador entre Deus e o homem, o homem Cristo Jesus, de um lado podia morrer, e doutro lado, não o podia.
Nasceu o verdadeiro Deus com a íntegra e perfeita natureza de um verdadeiro homem, todo o que é seu, todo inteiro no que é nosso. Por ‘nosso’ entendemos aquilo que o Criador fez em nós no início e que assumiu para ser reparado.
Não havia no Salvador vestígio algum daquilo que que o sedudor infligiu e que o homem enganado admitiu. Tenha participado, embora, da fraqueza humana, não foi partícipe dos nossos defeitos. No princípio assumiu a condição de servo, mas não a mancha do pecado; exaltou o humano, sem subtrair coisa alguma do divino.
O aniquilamento qual o invisível se fez visível e o Criador e Senhor de todas as coisas quis ser um dos mortais, era compassiva, condescendência não deficiência de poder.
Quem na natureza de Deus criou o homem, fez-se homem na condição de servo. Cada uma das duas naturezas conservou sem alteração de suas propriedades. Como a natureza de Deus não eliminou a natureza de servo, assim a natureza de servo não diminuiu a natureza de Deus.
Gloriava-se o diabo de ter sido o homem, por sua fraude, seduzido e privado dos dons divinos, despojado do dote da imortalidade e submetido à dura sentença de morte. Encontrava assim o demônio uma espécie de consolo dos próprios males na companhia do homem prevaricador.
Também Deus, exigindo justa prestação de contas, trocara a sentença do homem que ele havia criado em estado tão honroso. Foi, então, necessário, caríssimos, na execução de um plano oculto, que o Deus imutável, cuja vontade não pode ser privada de benignidade, completasse a primeira disposição de sua piedade para conosco com um mistério ainda mais escondido e o homem, instigado à culpa pela astúcia da iniquidade diabólica, contra o desígnio de Deus não perecesse.
Desce, portanto, do reino celeste às íntimas regiões deste mundo Jesus Cristo, Filho de Deus, sem se afastar da glória paterna, gerado em ordem nova, em novo nascimento. Nova ordem, porque invisível no que lhe é próprio, fez-se visível no que é nosso; incompreensível quis ser apreendido; sendo antes do tempo, começou a existir no tempo. O Senhor do universo assumiu a condição de servo, velando a imensidade de sua majestade.
Dignou-se o Deus impassível tornar-se homem passível e o imortal submeter-se à lei da morte.
Vem à luz por novo nascimento, porque a virgindade inviolada, que ignorava a concupiscência, ministrou-lhe a matéria corporal.
Recebeu o Senhor de sua mãe a natureza, mas isenta de culpa. A natureza humana de nosso Senhor Jesus Cristo, nascido do seio da Virgem, não difere da nossa por ter tido ele admirável natividade.
Sendo verdadeiro Deus, é também verdadeiro homem. Nesta unidade não há mentira, pois mutuamente se coadunam humildade humana e grandeza divina.
Como Deus não se altera por tal misericórdia, o homem não desaparece, absorvido pela dignidade divina. Age cada uma das naturezas em consonância com a outra, quando a ação é peculiar a uma delas. O Verbo opera o que lhe é próprio, e a carne executa o que lhe compete. Uma resplandece pelos milagres, enquanto a outra é sujeita aos opróbrios. Como não se aparta o Verbo da igualdade da glória paterna, a carne não perde a natureza do gênero humano. Um e o mesmo, convém repeti-lo, é verdadeiramente Filho de Deus e filho do homem.
Deus, porque no princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus (Jo 1,1). Homem, porque o Verbo fez-se carne e habitou entre nós (Jo 1,14).
Deus, porque todas as coisas foram feitas por meio dele, e sem ele, coisa alguma foi feita de quanto existe. Homem porque nascido de mulher, nascido sob a lei (Gl 4,4).
O nascimento carnal é manifestação da natureza humana; o parto da Virgem, indício do poder divino.
A humilhação do presépio denota a infância do menino (Lc2,7); as vozes dos anjos declaram a grandeza do Altíssimo (Lc 2, 13).
Quando procurou o batismo de João, seu precursor, (Mt 13,3), para ser patente que o véu da carne encobria a divindade, veio do céu a voz do Pai que dizia: Este é o meu Filho amado, no qual ponho as minhas complacências (Mt 3, 17).
Enquanto a astúcia do diabo tenta-o, como se fosse apenas homem, serve-o o exército dos anjos, como sendo Deus (Mt 4,1; 11).
Ter fome, ter sede, estar cansado e dormir evidentemente é humano. Mas, saciar com cinco pães cinco mil homens (Jo 6, 12) e dar à samaritana a água viva (Jo 4, 10), que não deixa mais ter sede quem a beber, andar sobre as ondas do mar a pé enxuto (Mt 14,25) e acalmar o furor dos vagalhões, falando imperiosamente à tempestade (Lc 8, 24) é indubitavelmente divino. Omitindo muitos fatos, digamos apenas: não é próprio de uma só e mesma natureza chorar por comiseração o amigo morto (Jo 11,35) e após a remoção da pedra do sepulcro de um defunto de quatro dias, despertá-lo redivivo, somente emitindo uma ordem; ou pender do lenho e transformar o dia em noite, fazendo tremer todos os elementos; ou ser trans-passado pelos cravos e abrir as portas do paraíso ao ladrão por causa de sua fé (Lc 23, 43).
Do mesmo modo não provém da mesma natureza dizer: ‘Eu e o Pai somos uma só coisa’ (Jo 10,30) e afirmar: ‘O Pai é maior do que eu’ (Jo 14, 28). Embora seja nosso Senhor Jesus Cristo uma só Pessoa, Deus e homem, difere contudo a proveniência para as duas naturezas do opróbrio comum a ambas e da glória comum. Pelo que recebeu de nós, a humanidade, ele é menor do que o Pai; do Pai lhe vem a igualdade com o Pai, a divindade.
Por causa dessa unidade de Pessoa em duas naturezas lemos ter o filho do homem descido do céu, quando o Filho de Deus, da Virgem da qual nasceu, assumiu um corpo. E novamente diz-se que o Filho de Deus foi crucificado e sepultado, ao sofrer tudo isso, não na própria divindade, pela qual o Unigênito é coeterno e consubstancial ao Pai, mas na fraqueza da natureza humana.
Igual perigo seria crer que o Senhor Jesus Cristo é Deus só sem ser humano, ou apenas homem e não Deus. Qual a finalidade do prazo de quarenta dias após a ressurreição do Senhor, a não ser libertar da integridade de nossa fé qualquer obscuridade?
Conversou com seus discípulos, esteve na mesma casa e comeu com eles (At1,4). Permitiu que o tocassem com diligência e curiosidade os que estavam ansiosos pela dúvida. Entrava com as portas fechadas onde estavam os discípulos; com seu sopro comunicava-lhes o Espírito Santo (Jo 20,22) e dando as luzes do entendimento revela-lhes a Sagrada Escritura (…). Assim, reconheceriam os discípulos que nele as propriedades da natureza divina e humana permaneciam intactas, e saberíamos nós que Verbo e carne não se identificam e que o único Filho de Deus é Verbo e carne. Não desconfies ser homem com um corpo igual ao nosso quem ele sabe ter sido passível, porque a negação da verdadeira carne é igualmente negação da paixão corpórea. Se adere à fé cristã, e não desvia o ouvido da pregação do Evangelho, contemple qual foi a natureza que pendeu do lenho da cruz, transpassada pelos cravos, e tendo sido aberto o lado crucificado pela lança do soldado, entenda de onde brotou sangue e água, para que a Igreja de Deus fosse refeita pelo lavacro e o cálice. A Igreja Católica vive de tal fé e nela progride: Não há em Cristo Jesus humanidade sem verdadeira divindade, nem divindade sem verdadeira humanidade. Êutiques respondeu a vosso interrogatório:
”Confesso que nosso Senhor tinha duas naturezas antes da união; depois desta, confesso ter apenas uma natureza”. Admiro-me que tão absurda e perversa profissão não tenha sido repreendida e censurada pelos juízes e tenha passado em silêncio palavra tão incipiente e blasfema, como se nada de escandaloso tivesse sido ouvido. Afirma ele tão impiamente que o Unigênito Filho de Deus, antes da encarnação, tivera duas naturezas, quanto criminosamente assevera haver nele uma só natureza depois que o Verbo se fez carne. A justiça, pois, reprima os pecadores e a misericórdia não repila os convertidos. (Coleção Patrística, Sermões de Leão Magno, pp. 202-213, Ed. Paulus, 1996, DP).
São João Crisóstomo (349-407), bispo e doutor da Igreja:
”Ó Filho Único e Verbo de Deus, sendo imortal, vos dignastes pela nossa salvação encarnar-vos da Santa Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, vós que sem mudança vos tornastes homem e fostes crucificado, ó Cristo Deus, que pela vossa morte esmagastes a morte, sois Um na Santíssima Trindade, glorificado com o Pai e o Espírito Santo, salvai-nos!” (Tropário ‘O monoghenis’).
Santo Inácio de Antioquia (+107):
“O príncipe deste mundo ignorou a virgindade de Maria e o seu parto, da mesma forma que a Morte do Senhor: três mistérios proeminentes que se realizaram no silêncio de Deus” (Ef 19,10).
Sobre a Morte de Cristo
São Gregório de Nissa (+394)
”Deus [o Filho] não impediu a morte de separar a alma do corpo, segundo a ordem necessária à natureza, mas os reuniu novamente um ao outro pela Ressurreição, a fim de ser Ele mesmo na sua Pessoa o ponto de encontro da morte e da vida sustando Nele a decomposição da natureza, produzida pela morte, e tornando-se Ele mesmo princípio de reunião para as partes separadas.” (Or. Cathec. 16).
São João Damasceno (650-749), bispo de Constantinopla, doutor da Igreja:
”Pelo fato de que na morte de Cristo a alma tenha sido separada da carne, a única pessoa não foi dividida em duas pessoas: pois o corpo e alma de Cristo existiram da mesma forma desde o início na Pessoa do Verbo; e na Morte, embora separados um do outro, ficaram cada um com a mesma e única Pessoa do Verbo.” (F.o., 3,27).
http://cleofas.com.br/sobre-a-pessoa-de-jesus-cristo/